Estatísticas assim refletem as altas do mercado, bem acima da inflação. O caso de Brasília é emblemático. Na Asa Sul, zona de maior valorização da capital, o preço médio do metro quadrado dos apartamentos costuma oscilar entre R$ 6,5 mil e R$ 8 mil – em 2008, o valor ficava em torno de R$ 3,2 mil, como conta o presidente do Secovi DF, Carlos Hiram Bentes David. Com preços assim, não é para menos que os apartamentos de quatro quartos na área custem em média R$ 1,5 milhão.
Em São Paulo, o metro quadrado dos lançamentos imobiliários ficou 29% mais caro na média dos primeiros dez meses de 2010 em comparação com 2009. Os dados são de levantamento realizado pela empresa de pesquisas imobiliárias Geoimóveis. Mais acentuada ainda foi a alta do Rio de Janeiro, de 55% em média no ano passado (2010), segundo estimativas do Secovi Rio. Como resultado, no Leblon – bairro com o metro quadrado mais salgado do Brasil, na casa dos R$ 12 mil - 97% das unidades de quatro quartos e 66% das de três não saem por menos de R$ 1 milhão.
Sobem os preços, crescem também os financiamentos milionários. No Bradesco, por exemplo, 6% das operações de crédito imobiliário se destinam à compra de imóveis de valor superior a R$ 1 milhão. A fatia é três vezes maior que a registrada em 2005, conta o diretor do banco Claudio Borges. Segundo ele, parte considerável dessa demanda vem de proprietários de outros imóveis, geralmente localizados em São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre ou Brasília. Incentivada pelos juros mais camaradas, essa gente agora busca dinheiro no banco para comprar uma nova propriedade.
Por envolverem bens de mais de R$ 500 mil, essas operações ocorrem fora do Sistema Financeiro da Habitação (SFH) e não dão direito à utilização do fundo de garantia no pagamento. De acordo com o executivo, os juros do mercado costumam ficar em torno de 10,5% - taxa que já inclui os costumeiros descontos concedidos para fechamento do negócio. O custo é vantajoso na comparação com os velhos tempos.
“Em 2007, os juros fora do SFH costumavam variar entre 13% e 13,5%”, compara Borges.
Ainda assim, os financiamentos para imóveis avaliados em mais de meio milhão de reais custam mais que os do SFH, que tem taxas em torno de 10% ao ano para propriedades com valor entre R$150 mil e R$ 500 mil e juros geralmente na casa dos 8% para casas e apartamentos mais baratos.
Se dinheiro não for problema, o que esperar de um imóvel milionário? Esqueça salão de festas, churrasqueira no jardim, espaço gourmet, sauna, brinquedoteca ou banhos de sol com a vizinha – atrativos que tanto encantam a classe média. “A área de lazer costuma ser tímida nos imóveis de luxo, com valor acima de três milhões de reais em São Paulo”, afirma Luiz Paulo Pompéia, diretor de estudos de mercado da Embraesp. Ele explica: “Os moradores de condomínios para alta renda não querem dividir espaço com outros moradores.”
A visão é compartilhada por José Eduardo Cazarin Silva, sócio da Axpe Imóveis, especializada em propriedades de alto padrão. “O máximo que esse público busca é academia ou piscina aquecida com raias para manter a forma”, diz. “Para puro lazer, preferem viajar para casa de campo ou de praia.”
Com tanto apreço pela privacidade, quanto menos apartamentos o prédio tiver, mais vale a propriedade.